Após três meses de deliberação, os jurados absolveram esta semana o policial branco Darren Wilson, que matou o jovem negro Michael Brown em agosto deste ano em Ferguson (Estado do Missouri), nos Estados Unidos. O júri entendeu que não havia provas suficientes para incriminar Wilson pelo assassinato. A decisão desencadeou mais uma série de protestos, dezenas de incêndios, apedrejamentos de carros e casas na cidade do centro-oeste dos EUA. Em comunicado após a decisão, a família de Brown disse: "nos sentimos profundamente decepcionados porque o assassino do nosso filho não enfrentará a consequência de seus atos”.
Segundo estatísticas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (EUA), 80% das pessoas abordadas pela Polícia de Nova York são negras ou latinas.Em 2012, homens negros estavam seis vezes mais sujeitos a serem presos do que brancos – entre latinos, a proporção era de 2,5 vezes mais do que os brancos.
O alto comissionado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Zeid Ra´ad Al Hussein, destacou que, em alguns setores da população, existe uma profunda falta de confiança no sistema de justiça e nas instituições de ordem pública. Para Zeid, é urgente um exame a fundo das autoridades estadunidenses sobre como questões de caráter racial afetam o cumprimento da lei e a administração da justiça, tanto em nível federal como estadual.
A partir do ocorrido, pessoas começaram a se reunirem e a formarem comunidades para combaterem as injustiças contra o povo negro, o que tem preocupado a polícia do país. Para a família de Brown, é importante "usar a frustração para contribuir com uma mudança positiva”, pois "responder a violência com mais violência não é o apropriado, não façamos barulho, façamos a diferença”.
A militarização da polícia e o uso de força excessiva (e mortal) contra cidadãos e jornalistas tem agravado a violência das mobilizações populares e se transformado em um embate entre a polícia e negros e negras. A comunidade internacional e instituições de defesa pelos direitos humanos demonstram preocupação pela proporção que a situação está assumindo. Segundo o diretor executivo da Anistia Internacional, W. Hawkins, "o direito ao protesto pacífico é um direito humano e deve ser zelosamente protegido. Os agentes têm o dever de respeitarem e facilitarem o exercício desse direito, e não de sufocá-lo”.
O caso de Ferguson reaviva as discussões sobre o preconceito racial nos EUA, que volta a ser temática quando histórias como a de Brown são midiatizadas. Porém, existe a cotidianidade do racismo que envolve questões muito mais amplas, complexas e estruturais. Muitos movimentos têm cobrado do presidente Barack Obama, medidas mais efetivas no combate à violência étnica. Por ser negro, esperava-se mais da atitude de Obama em defesa da causa.
Para Carey Jenkins e Detric Quinlan, ativistas negros dos EUA, em entrevista ao Mídia Ninja, Obama "não tem dito nada. Um cara como ele no poder faz com que as pessoas voltem a dormir tranquilas. Quando Bush era presidente, sabíamos que ele não ligava para nós. Mas, como temos um negro no poder, pensamos: ‘deem mais tempo pra ele, está com dificuldades, com um governo bagunçado...’ Ele tem bombardeado outros países, matado presidentes e pessoas inocentes, usado ‘drones’ [veículos aéreos não tripulados]. Obama também tem sangue em suas mãos. Por ser um presidente negro, o povo pobre cobra menos. O maior truque que o demônio pode ter é vir como um amigo”.
As repercussões do caso de Brown remontam à época da intensa luta pelos direitos civis dos negros e negras, no fim da década de 1950, nos EUA. O período foi marcado por rebeliões populares que defendiam reformas na constituição estadunidense, em busca de direitos iguais, da abolição da discriminação e da segregação racial no país. Surgiram movimentos como o Black Power e osPanteras Negras numa reação dos negros e negras aos ataques promovidos pela Ku Klux Klan no sul do país, onde eram comuns linchamentos e atentados violentos, principalmente nos Estados da Geórgia, Mississippi e do Texas.
Mesmo com o histórico de lutas por seus direitos e diante de uma política e sociedade estadunidense considerada "democrática”, os negros seguem sob a pressão do preconceito e das desigualdades. Para o sociólogo Darnell Hunt, diretor do Centro de Estudos Afro-Americanos da Universidade da Califórnia, há décadas, o índice de desemprego entre negros e negras é praticamente o dobro do índice entre os brancos/as. A média da renda familiar dos afro-americanos é um terço menor do que a média dos EUA. E há três vezes mais negros vivendo na pobreza do que os brancos, além de serem levados à prisão com uma frequência quatro vezes maior.
Ferguson, por exemplo, cidade com 21 mil moradores, sendo dois terços deles negros, segue com a desvantagem dos negros em praticamente todos os segmentos da sociedade. O prefeito e cinco dos seis integrantes da Câmara Municipal são brancos, bem como 50 dos 53 agentes do Departamento de Polícia também.
Entenda o Caso de Michael Brown
Em 09 de agosto deste ano, o jovem negro de 18 anos Michael Brown foi alvejado pelo policial branco Darren Wilson, no bairro de St Louis (cidade de Ferguson, em Missouri, EUA). O fato ocorreu durante o dia, após a saída de Brown de uma loja de bebidas, na qual acabara de roubar um maço de cigarros. O jovem, até então sem antecedentes criminais, estava desarmado quando foi morto com seis tiros, dois deles na cabeça, segundo a perícia. O caso repercutiu internacionalmente e incitou uma série de manifestações, incluindo reações violentas entre polícia e manifestantes.
O júri que absolveu Wilson, composto por 12 pessoas (seis homens brancos, três mulheres brancas, duas mulheres negras e um homem negro), manteve reuniões secretas por meses, ouvindo testemunhas e analisando evidências.
Entenda o Caso de Michael Brown
Em 09 de agosto deste ano, o jovem negro de 18 anos Michael Brown foi alvejado pelo policial branco Darren Wilson, no bairro de St Louis (cidade de Ferguson, em Missouri, EUA). O fato ocorreu durante o dia, após a saída de Brown de uma loja de bebidas, na qual acabara de roubar um maço de cigarros. O jovem, até então sem antecedentes criminais, estava desarmado quando foi morto com seis tiros, dois deles na cabeça, segundo a perícia. O caso repercutiu internacionalmente e incitou uma série de manifestações, incluindo reações violentas entre polícia e manifestantes.
O júri que absolveu Wilson, composto por 12 pessoas (seis homens brancos, três mulheres brancas, duas mulheres negras e um homem negro), manteve reuniões secretas por meses, ouvindo testemunhas e analisando evidências.
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