Lisboa - O presidente português, Cavaco Silva, parece pouco preocupado com o impasse político que o país atravessa e a indefinição sobre quem governará Portugal, depois de o programa da coligação PSD/CDS, agora minoritária no Parlamento, ter sido chumbada com os votos contra de toda a esquerda, que passou a ter a maioria dos deputados após as eleições legislativas de 4 de outubro.
Em visita à ilha da Madeira, para cumprir mais uma jornada do seu "Roteiro para uma economia dinâmica", Cavaco Silva acenou com a possibilidade de deixar o atual Governo em gestão, à espera que o próximo Presidente da República (que só será eleito no início do próximo ano) decida convocar novas eleições. "Eu estive cinco meses em gestão quando era primeiro-ministro", recordou o chefe de Estado, aludindo ao ano de 1987, quando ele passou por uma incerteza semelhante, que o deixou na frente de um Executivo em gestão (com poderes limitados e sem capacidade para aprovar alterações relevantes).
Embora as duas situações não sejam diretamente comparáveis, porque hoje as exigências da União Europeia são bem maiores (com metas definidas de défices orçamentais e requisitos claros para o reporte de informação periódica a Bruxelas), Cavaco aproveitou a alusão ao seu Governo de gestão para dar um sinal de não ter pressa em decidir.
A mensagem de Cavaco surge depois de um resultado eleitoral que levou o Partido Socialista (PS) a firmar acordos à sua esquerda para se apresentar como alternativa de Governo, depois do chumbo do programa da coligação PSD/CDS no Parlamento. O sinal de despreocupação acontece também depois de durante largos meses Cavaco Silva ter dramatizado a situação política nacional, apelando a consensos e entendimentos entre os partidos do chamado "arco da governação", nomeadamente o PSD, o CDS e o PS.
Fortemente contrário às ideias de forças como o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE), que agora se aliaram ao PS, Cavaco Silva insiste em não acelerar a resolução do impasse que se vive em Portugal.
Cavaco Silva argumenta que ainda está na fase de recolha de informação para tomar a sua decisão (e tem feito essas consultas sobretudo junto de líderes de associações empresariais). O candidato presidencial Sampaio da Nóvoa (que disputará as eleições de 2016) veio esta segunda-feira comentar que a demora do chefe de Estado "não está a ser normal".
"Não há, na minha opinião, nenhuma razão que impeça uma tomada de decisão do senhor Presidente da República", declarou Sampaio da Nóvoa em Lisboa.
Também esta segunda-feira, em entrevista à RTP, o secretário-geral do PS, António Costa, que aspira a ser o próximo primeiro-ministro português, criticou a campanha que o líder do PSD e atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, tem feito publicamente contra a possibilidade de o PS voltar ao Governo.
"Acho absolutamente lamentável, que em particular o primeiro ministro e a senhora ministra das finanças, que para todos os efeitos ainda estão nessas funções, se permitam fazer os discursos públicos que têm feito [...] que são muito imprudentes ao esforço que todos devemos fazer para ser reforçada a confiança", afirmou António Costa.
"Não há nenhuma razão para se criar crises políticas artificiais", reafirmou o secretário-geral do PS.
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