O Carnaval de Salvador precisa ser repensado para voltar a ser a maior festa de participação popular do Brasil. Essa é a opinião do vereador Hilton Coelho (PSOL) que vê os trios sem cordas apresentados como novidades deste ano apenas uma forma de se manter, no essencial, uma festa cada vez mais elitizada. "É um capitalismo sem risco absurdo. Os gastos são públicos e os lucros privados. Deve-se exigir daqueles que lucram com a festa uma contrapartida social, a responsabilidade social dos anunciantes, melhorar as condições de trabalho dos barraqueiros e ambulantes e acabar com o regime de semiescravidão dos cordeiros. Os governos estadual e municipal reduziram-se ao papel de criar condições estruturais para que setores privados pudessem faturar com a festa", afirma Hilton Coelho.
Para o representante do PSOL, "é urgente repensar um modelo de festa que faz com que grande parcela da população não compareça a qualquer dos eventos e que 20% dos que a frequentam estão lá por motivo de trabalho. A homogeneização cultural, o atrelamento da festa ao turismo e a desestruturação do município agravaram as condições de segurança e mobilidade da população e incompatibilizaram boa parte dela em relação ao carnaval. Vemos bandas e artistas que puxavam blocos que se orgulhavam de dizer 'só ter gente bonita na avenida', onde as pessoas eram selecionadas após apresentarem fotografia 3x4 e preencherem formulários falando sobre toda sua vida e que hoje estão 'sem cordas', ou seja, pagas com o dinheiro público. Fazem isso não porque se tornaram conscientes de seu papel social e sim porque não atraem mais as pessoas abastadas".
O legislador lembra que "a exclusão mudou de endereço. Os blocos que se apresentavam e lutavam para ser identificados como os que tinham gente branca, dos bairros nobres, segregando e privatizando o espaço público das ruas, hoje lutam para não fechar as portas e recebem dinheiro público para baixarem as cordas. Será que com a presença maior de negros e negras nos antes elitizados blocos, a tal 'gente bonita' prefere agora assistir tudo em cima do camarote? A festa já não é mais popular, mas é a festa de uma minoria privilegiada. Olhando para o carnaval de Salvador lembramos o quanto é desigual nossa cidade e nosso país".
Ele lembra também que "nem mesmo o grande sambista Riachão conseguiu apoio governamental para participar do circuito que leva o seu nome no Garcia com a tradicional Mudança do Garcia. Um artista que merece o respeito da Bahia e do Brasil e que hoje tem 94 anos de idade, não foi visto com carinho pelos governos. Ora, que incentivo cultural é este que deixa de fora um dos ícones da Bahia?", questiona e critica o legislador.
"Houve um tempo que se dizia que o carnaval da Bahia era o carnaval da participação popular. O carnaval democrático, participativo, que fazia um contraponto com o carnaval do Rio de Janeiro não existe mais. A festa foi entregue aos donos da indústria cultural e a cidade entregue às construtoras. A Bahia está perdendo sua característica básica e o carnaval é só mais um negócio. Que essa festa não perca sua alma cultural e não fique descaracterizada pela força da indústria do carnaval, mas que seja repensada pelas esferas públicas com ampla participação popular para que possam ser incluída nela momentos culturais que venham atender todos os públicos e assim todos possam participar e se sentirem inseridos nela, novamente do povo", finaliza Hilton Coelho.
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