Os Terraplanistas da Reforma da Previdência

Você sabe quem são os terraplanistas? Após assistir um documentário no Netflix fui apresentado a esse peculiar universo de pessoas, cuja identificação se dá pela facilidade com que acreditam em teorias conspiratórias e desacreditam as descobertas da ciência.
Em resumo, os terraplanistas pensam que a terra é plana e não vivemos num planeta redondo. Todas as evidências até hoje reunidas como prova de que a Terra é redonda são refutadas pelos adeptos dessa doutrina, sem que exista um único experimento científico capaz de corroborar sua linha de pensamento. Não são raras as vezes em que os terraplanistas, imbuídos do propósito de “vender” sua teoria, inserem nos seus discursos uma fração de verdade, conquistando assim mais seguidores.
Os cientistas estão perplexos com a força do movimento terraplanista e com a quantidade de adeptos ao redor do globo. Não deveriam. O discurso científico passou a ser desacreditado quando alguns cientistas começaram a adotar métodos questionáveis em seus experimentos, iniciaram pesquisas sem relevância e apresentaram resultados de estudos facilmente refutados no interregno de menos de um mês. Quantos de nós já vimos numa semana uma pesquisa científica dizendo que café faz mal, para, na semana seguinte, surgir outra dizendo o contrário?
A contaminação de estudos - que deveriam ser técnicos e imparciais - por questões políticas, econômicas ou interesses particulares, atrai o descrédito para toda uma classe de profissionais que deveria merecer nosso interesse e confiança. Nesse sentido não vivemos apenas um conflito entre o discurso científico e a sociedade, mas também um conflito ético e moral diante da perda de credibilidade da ciência. São poucos aqueles que se dispõe a adotar uma perspectiva ampla para compreender seu objeto de estudo e estudam as várias faces de um problema.
Se no campo científico vive-se esse dilema, na economia não é diferente. Temos uma classe muito peculiar de pessoas que se reuniram para refutar todas as evidências econômicas e matemáticas acerca da crise de fluxo de caixa na Previdência do nosso país. São os “Terraplanistas da Previdência”. Seus argumentos são tão rasos quanto sua perspicácia e sua ignorância é alardeada sempre que possível em frases curtas de fácil entendimento, ditas aos berros: “- Não existe déficit! - Temos que cobrar a dívida dos grandes devedores! – É a reforma pé na cova! – O déficit é uma farsa! – No Chile deu errado”; eles se alimentam das teorias conspiratórias com a ingenuidade de um bebê.
Para que tais grupos de terraplanistas não conquistem mais adeptos, é preciso paciência, ensino, informação de qualidade, verdade e educação. A antiga máxima “contra fatos não há argumentos” não é mais suficiente, pois ultrapassamos a era da informação e chegamos à era da desinformação.
Aqueles que militam pela verdade precisarão redobrar seus esforços para fazê-la ser compreendida. É mais fácil digerir um pedaço que o pão inteiro: a mentira se propaga em migalhas.

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Cícero FavarettoAdvogado - OAB/SC nº28.059