Foto: Lucky Nunes - Depois de uma temporada prestigiada em fevereiro deste ano, o grupo Matamoscas Teatral traz de volta à cidade de São Paulo o espetáculo Desempregada. As sessões acontecem no Espaço Parlapatões de 11 a 20 de agosto, sempre às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. O espetáculo tem direção de José Pedro e dramaturgia de Bella Rodrigues. No elenco estão Ana Alencar, Franco Cammilleri, Gabrielle Távora e PV Hipólito. A peça é uma comédia que parte da simbologia dos super-heróis clássicos dos cinemas e dos quadrinhos para criticar o modelo da "jornada do herói" atualmente seguido pela quase totalidade das produções midiáticas. O enredo, apresentado principalmente pela ótica do feminismo, também é marcado pela visitação aos textos "Sociedade do Cansaço", de Byung-Chul Han, e "O Herói de Mil Faces", de Joseph Campbell. Essas temáticas foram associadas às questões enfrentadas pela juventude brasileira que adentra o mercado de trabalho no momento de crise pós-pandêmica, agravados pelo governo do ex-presidente Bolsonaro. No espetáculo, é exibida ao público a jornada do herói (modelo de narrativa cunhado por Joseph Campbell em "O Herói de Mil Faces") que não deu certo, quebrando assim a expectativa e a promessa de uma estrutura narrativa tradicional. "A heroína se depara com um fracasso anticlimático a cada etapa, carregado de uma letargia frustrante. Existe algo de estranho na narrativa contada, seja na atuação do nosso contrarregra, ligeiramente mais incisivo do que o esperado, ou nas personagens que supostamente apareceriam para auxiliar sua jornada", conta a dramaturga Bella Rodrigues. Segundo Bella, o modelo da "jornada do herói", atualmente seguido pela quase totalidade das produções midiáticas, é hegemonicamente eurocêntrico, estadunidense, branco, heteronormativo e masculino. O espetáculo reflete, portanto, sobre como uma jovem latino-americana se relaciona com essa ilusão grandiosa diante do contexto do país e das opressões impostas a ela enquanto mulher. “A jornada do herói é um sonho que vemos desde pequenas, mas que não foi feito para mulheres, pessoas racializadas e LGBTQIA+. Como é ser uma menina e seguir todos os passos de uma narrativa que não tem espaço para nossos corpos?", questiona a dramaturga. "Desempregada explicita as contradições dessa jornada mostrando a necessidade de aprendermos a contar outras histórias, de outros jeitos, que não sejam sobre homens brancos e seus supostos heroísmos", complementa Bella.
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