quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Pessoas com TDAH têm o dobro do risco de se envolver em acidentes

No Brasil, cerca de 5,2% das pessoas que têm entre 18 e 44 anos e 6,1% das pessoas maiores de 44 anos possuem Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno de neurodesenvolvimento que se caracteriza, basicamente, por três sintomas: impulsividade, desatenção e agitação. “Se transpusermos esses sintomas para a condução de veículos, veremos que eles representam um aumento do risco de sinistros de trânsito, e, para motoristas com TDAH, esse risco é 2 vezes maior. Estudos comprovam que essas pessoas também cometem mais infrações de trânsito, em geral provocadas por breves períodos de desatenção à sinalização da via”, afirma o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra. Diante desse cenário, especialistas da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), dentre eles Coimbra, elaboraram uma diretriz com recomendações para subsidiar a atuação do médico do tráfego na realização de exames relacionados à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), e também para orientar as pessoas que têm o transtorno a adotarem uma condução veicular segura. "Historicamente a maioria dos sinistros de trânsito está relacionada ao fator humano, ou seja, pode ser evitada a partir de orientações que surgem a partir de estudos científicos como esse, que fazem a diferença pela segurança viária dessa parcela da população é de toda coletividade”, observa Coimbra.
Dados oficiais - Hoje, no Brasil, fatores relacionados à desatenção estão entre as principais causas de acidentes nas rodovias federais brasileiras. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), de janeiro a agosto deste ano, 10.155 sinistros de trânsito foram causados por ausência de reação; reação tardia do condutor ou por motoristas que acessaram a via sem observar a presença de outros veículos. Esses sinistros provocaram 692 mortes e deixaram 11.542 pessoas feridas. “Isso mostra o quanto esse transtorno pode estar subdiagnosticado em nossos motoristas”, resume o especialista.
Risco em dobro - Segundo a Abramet, estudos epidemiológicos concluem que o risco de uma pessoa com TDAH se envolver em sinistros automobilísticos é 54% maior. No entanto, estudos observacionais, que utilizaram dados oficiais e informações autorrelatadas, concluíram que esses condutores apresentaram um risco quase dobrado de se envolver nesses sinistros e, com mais frequência, cometiam infrações de trânsito. “Estudo com mais de 17.000 motoristas constatou taxas mais altas de colisões envolvendo pessoas com TDAH em relação ao grupo controle, sendo (6,5% X 3,9%) para os homens e (3,9% X 1,8%) para as mulheres. O risco relativo para colisões de veículos conduzidos por pessoas com TDAH é 1,36 a 1,88 vezes maior”, descreve trecho da diretriz.
Medicação - O TDAH é um transtorno tratado com psicoterapia e medicação. No Brasil, por enquanto, há apenas drogas estimulantes disponíveis para o tratamento. “Substâncias usadas no tratamento do TDAH podem ampliar a inabilidade de conduzir do motorista. A orientação mais importante é a de que o condutor não dirija se não estiver medicado; não utilize o celular e jamais dirija se tiver consumido bebidas alcoólicas. O álcool amplia os prejuízos cognitivos e comportamentais e afeta negativamente mais as pessoas com TDAH”, comenta Coimbra. Além disso, a diretriz traz duas importantes recomendações: não usar o piloto automático e usar, preferencialmente, o câmbio manual. “A pessoa com TDAH vai ter mais atenção e concentração para dirigir em situações onde é mais cobrada, como durante a troca de marchas, por exemplo. Mesmo que a pessoa tenha um carro automático, pode optar pelo modo manual quando estiver dirigindo. Isso deixa o motorista mais atento ao trânsito. Também por isso o piloto automático deve ser evitado”, completa o especialista.

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