A Galatea inaugura a exposição Dani Cavalier: pinturas sólidas, primeira individual da artista carioca Dani Cavalier (Rio de Janeiro, 1993). Com textos críticos assinados pelo curador Tomás Toledo e pela historiadora da arte Isabel Carvalho, a mostra acontece na unidade da galeria na Rua Oscar Freire, em São Paulo, e marca o início da representação da artista pela Galatea. Reunindo um conjunto de obras inéditas, a exposição apresenta a pesquisa que Cavalier tem desenvolvido nos últimos anos em torno do conceito de “pinturas sólidas” — composições feitas com retalhos de tecidos reaproveitados da indústria da moda que operam entre pintura, escultura e instalação. Em vez de tinta e pincel, a artista utiliza retalhos coloridos de Lycra, tecido com o qual se familiarizou a partir da sua antiga marca de moda praia, a Aro SwimWear. Os recortes de lycra que envolvem o chassi criam tramas, texturas, justaposições e blocos de cor que desestabilizam a ideia tradicional de superfície pictórica e composição. A pintura sólida se revela, então, como uma espécie de dispositivo para discutir as tipologias de pintura na história da arte, especialmente no domínio da paisagem e da abstração tanto de matriz concreta quanto informal. Além disso, pelo seu forte apelo tátil e visual, as obras rompem com noções convencionais de frente e verso, plano e volume, oferecendo uma nova leitura da pintura como corpo tridimensional no espaço. Algumas peças estarão expostas “flutuando”, destacando sua relação imersiva com o ambiente e com o espectador. “O repertório artesão brasileiro, que está entranhado culturalmente em nós, é acionado quando o público entra em contato com os trabalhos. Isso é não só uma intenção artística, mas um resultado que observei durante esse um ano e meio das pinturas sólidas estarem sendo expostas”, comenta a artista. Além de provocar reflexões sobre o campo expandido da pintura, a obra de Cavalier carrega um forte compromisso com a sustentabilidade e a memória material da moda brasileira. A paleta de cores dos tecidos, acumulados ao longo de uma década, traça um panorama visual dos desejos, comportamentos e tendências de consumo — funcionando, também, como uma espécie de “chão de fábrica” da moda carioca. Ao integrar técnicas tradicionalmente ligadas ao artesanato têxtil, a artista também reabre discussões sobre os limites entre arte e ofício, rompendo com hierarquias históricas que marginalizaram práticas femininas e populares nas artes visuais.
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