O Distrito Federal tem enfrentado, nas últimas semanas, uma das fases mais severas de estiagem dos últimos anos. Em setembro de 2024, a umidade relativa do ar chegou a 7%, índice considerado de “alerta vermelho” pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A situação, comum entre os meses de maio e setembro, já levou à superlotação de prontos-socorros em Brasília e cidades do entorno. Dados da Secretaria de Saúde do DF indicam aumento de 22% nos atendimentos por doenças respiratórias, como rinite, bronquite e sinusite, entre o fim de maio e a primeira quinzena de junho.
O que agrava ainda mais esse cenário é o uso contínuo de ar-condicionado sem renovação de ar e a devida manutenção em ambientes fechados como residências, escritórios, hospitais e escolas. “A secura do ar pode agravar alergias e predispor o organismo a infecções. Renovação de ar já é lei e umidificadores ajudam a restaurar o equilíbrio e tornar os ambientes ainda mais saudáveis”, alerta Patrick Galletti, engenheiro de climatização e CEO do Grupo RETEC, empresa com mais de 42 anos de atuação no mercado de AVAC-R (aquecimento, ventilação, ar-condicionado e refrigeração).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a umidade ideal para ambientes internos está entre 50% e 60%. No auge da seca no DF, os índices médios caem para cerca de 28%, e, em determinados bairros, não ultrapassam os 20%. A exposição contínua a ambientes tão secos favorece o ressecamento das vias aéreas, agravamento de doenças respiratórias e até lesões de pele. “Muitas pessoas não associam sintomas como nariz entupido, coceira nos olhos e fadiga à baixa umidade. O ar-condicionado, se mal calibrado, intensifica esses efeitos”, alerta Galletti. A nova NBR 17037/2023 e a NR‑17 reforçam a necessidade de controle térmico, qualidade do ar e limites de CO2 para garantir a saúde dos colaboradores. Ignorar essas exigências pode resultar em adicional de insalubridade, passivos trabalhistas,queda de produtividade e ambientes desconfortáveis e inseguros.
Para mitigar os efeitos do clima seco, empresas especializadas têm implementado soluções integradas em projetos corporativos e residenciais no DF, incluindo climatização com sensores de umidade, ventilação cruzada, purificadores de ar e sistemas que regulam a temperatura sem comprometer a umidade natural do ambiente. “Essa combinação entre controle térmico e qualidade do ar cria ambientes mais seguros e produtivos”, reforça o especialista.
O impacto não se limita à saúde. A má qualidade do ar em escritórios e espaços coletivos interfere diretamente no desempenho profissional. Um estudo do Harvard Center for Health and the Global Environment mostrou que trabalhadores expostos a ambientes com ar seco e pouca ventilação apresentam 50% mais queixas relacionadas a dores de cabeça, fadiga e dificuldade de concentração.
A situação exige atenção especial para grupos vulneráveis. No DF, a asma afeta cerca de 17% dos escolares, acima da média nacional de 12,4%, segundo o levantamento PENSE 2012. Em 2023, mais de 1.300 crianças entre 1 e 9 anos foram internadas por crises respiratórias em unidades públicas do Distrito Federal, conforme dados do Programa de Atendimento ao Paciente Asmático (PAPA-DF).
Galletti destaca ainda que não basta instalar um sistema de climatização moderno.“É preciso que ele seja corretamente dimensionado, tenha manutenção preventiva e contemple umidade, filtragem e renovação do ar. A climatização deve ser vista como estratégia de saúde pública, especialmente em regiões como o DF, onde o clima seco é uma realidade anual”, conclui.