A infância é usualmente vista como uma época de inocência, descobertas e brincadeiras, mas nem todas as crianças têm o privilégio de uma infância despreocupada. Os traumas desse período são feridas invisíveis que podem deixar cicatrizes emocionais profundas, que refletem ao longo da vida. As situações traumáticas podem incluir abuso físico, sexual ou emocional, negligência, divórcio dos pais, violências domésticas, bullying, perda de um ente querido e muitos outros eventos aversivos. “O que acontece na infância não fica na infância, na realidade os eventos traumáticos ocorridos nessa fase podem acarretar uma série de problemas de saúde física e emocional, como queda do sistema imunológico, surgimento de alergias e problemas de pele, doenças autoimunes, entre outros”, diz Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT.
Por que eventos que acontecem na infância são tão impactantes?
Colombini explica que a primeira infância é um momento extremamente delicado, visto que a criança está conhecendo a si mesma e ao mundo e aprendendo a conviver em sociedade a partir da ajuda de outras pessoas (seus pais, rede de apoio). “Por isso, se a criança vivenciar uma situação traumática nessa fase, ela fica sem referências, o que abala sua regulação emocional”, diz o especialista. “Neste período, os traumas afetam profundamente a saúde mental antes mesmo da criança conseguir desenvolver o autoconhecimento”, conclui.
Existem indícios de que os traumas da infância estão trazendo prejuízos na vida adulta?
Segundo Filipe, sim. A falta de maturidade emocional é um dos principais sinais. “Muitas pessoas que sofreram traumas na infância não conseguem ter estabilidade em suas relações, têm incapacidade no estabelecimento de metas duradouras e estáveis na vida, além de nutrirem um forte padrão desconfiança e instabilidade e ainda dependerem muito do outro emocionalmente para tomar decisões e resolver seus problemas”, destaca o psicólogo. Isso reflete em sensação de vazio existencial, em um processo onde o indivíduo tem baixos níveis de autoconhecimento e autoestima, não conseguindo estabelecer autocompaixão. “Estas pessoas podem se isolar, recorrer a comportamentos impulsivos, agressivos, tentativas de automutilação e até mesmo tentativas de suicídio”, diz Colombini. “Elas podem ainda desenvolver dependência de substâncias, ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e outros distúrbios psicológicos”, conclui.
Dá para superar traumas de infância na vida adulta?
Sim, a melhora da qualidade de vida pode acontecer. A terapia, especialmente quando focada no trauma, pode ser altamente eficaz. Ainda segundo o especialista, profissionais de saúde mental são os mais indicados para ajudar no processo de superação dos traumas vivenciados na infância. “É preciso aderir a um tratamento com forte estrutura de intervenção, liderado por profissionais da área da Saúde Mental: psiquiatra, psicólogo clínico e também um acompanhante terapêutico (AT), por exemplo”, diz Filipe. Colombini ressalta, ainda, que questões de saúde relacionadas a traumas exigem uma abordagem sensível, técnica e diretiva, orientada por profissionais treinados para lidar com essas situações. É justamente por isso que o mais importante é buscar ajuda profissional. “Em geral estas pessoas têm dificuldades estruturais, que requerem avaliação técnica minuciosa e o desafio é trazer estabilidade para a vida delas, em um processo no qual a rede de suporte, como família e amigos, precisam estar sempre atentos, com escuta e apoio ativos, em função do forte sentimento de invalidação vivenciado pela pessoa”, explica o psicólogo. Mais sobre Filipe Colombini: psicólogo, fundador e CEO da Equipe AT, empresa com foco em Acompanhamento Terapêutico (AT) e atendimento fora do consultório, que atua em São Paulo (SP) desde 2012.
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